São Paulo registra 463 PMs presos desde o início do governo Tarcísio
Número de prisões indica média de uma a cada dois dias entre janeiro de 2023 e maio de 2025. Motivo das prisões não foi divulgado
atualizado
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Pelo menos 463 policiais militares foram presos no estado de São Paulo durante a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), de acordo com informações enviadas pela pasta ao Metrópoles no último dia 5 de junho. O número indica a média de uma prisão a cada dois dias entre o início de janeiro de 2023 e o fim de maio de 2025. No período, foram 318 PMs demitidos ou expulsos.
A pasta não especificou o que levou à punição dos agentes, limitando-se a dizer que os números são resultado de “medidas rigorosas contra aqueles que infringem a lei ou desrespeitam seus protocolos”. Também não foi detalhado se as transgressões cometidas pelos PMs aconteceram nesta gestão ou em gestões anteriores.
Além dos crimes comuns, pelos quais qualquer cidadão pode responder, um policial militar também pode ser preso por infrações disciplinares, como faltas e descumprimentos de ordens legais, além de crimes militares, como homicídio em serviço, violência contra colegas e desacato. Os PMs detidos por crimes militares são encaminhados para o Presídio Romão Gomes, em Tremembé, na zona norte da capital.
As prisões mais emblemáticas de policiais durante a gestão Tarcísio ocorreram após a morte do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) Vinícius Gritzbach, em 8 de novembro, no Aeroporto de Guarulhos.
As investigações da Polícia Civil, da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público de São Paulo (MPSP) apontaram que três PMs foram os responsáveis pela execução. O tenente Fernando Genauro teria dirigido o veículo usado no crime. O cabo Denis Martins e o soldado Ruan Rodrigues teriam sido os atiradores.
Além do crime de homicídio, eles foram indiciados por organização criminosa, assim como outros 15 agentes que atuavam como seguranças de Gritzbach.
Violência policial
Em uma apuração que levou nove meses, o Metrópoles analisou mais de 90 mil páginas de 229 processos judiciais referentes a 246 mortes decorrentes de intervenção policial. A reportagem identificou 85 vítimas que não tinham arma de fogo e 47 baleadas pelas costas. Apesar disso, localizou um único policial militar envolvido nas ocorrências que foi preso.
Trata-se do PM Vinícius Lima Britto, de 23 anos, que deu 11 tiros pelas costas no dependente químico Gabriel Renan da Silva Soares, de 26, em um mercadinho da rede Oxxo, na zona sul da capital. O rapaz, que havia roubado três sachês de sabonete líquido, foi baleado seis vezes, enquanto tentava fugir correndo do local.
A ação, registrada por uma câmera de segurança, mostra que, em nenhum momento, Gabriel fez menção de estar armado ou ameaçou o policial ou clientes do estabelecimento.
Assista:
Ao pedir a prisão do policial, o promotor Rodolfo Justino Morais, da 3ª Promotoria do Júri, afirmou que o policial agiu por motivo fútil, diante de uma pessoa sem possibilidade de defesa.
“O denunciado Vinicius de Lima Britto, agindo com manifesto animus necandi [intenção de matar], por motivo fútil, mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima e com emprego de meio que resultou perigo comum, matou Gabriel Renan da Silva Soares, causando-lhe os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico”, afirma o promotor.
“O motivo do crime foi fútil, consistente na reação desproporcional do denunciado ao furto de produtos de limpeza. O denunciado agiu de forma absolutamente desarrazoada, executando sumariamente a vítima sem que houvesse qualquer ameaça ou risco à sua integridade física ou de terceiros”, acrescenta.
O que diz a PM
Questionada pelo Metrópoles sobre o número de pessoas desarmadas mortas por policiais militares em 2024, a Polícia Militar (PM) limitou-se a dizer que “não tolera desvios de conduta” e que, “como demonstração desse compromisso, desde o início da atual gestão, 463 policiais militares foram presos e 318 demitidos ou expulsos”.
Segundo a corporação, todas as mortes provocadas por policiais são investigadas com acompanhamento da Corregedoria e do Ministério Público. Além disso, o comunicado afirma que em todos os casos são instauradas comissões para identificar “não conformidades”.
“A atual gestão investe em formação contínua do efetivo, capacitações práticas e teóricas, e na aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo, como armas de incapacitação neuromuscular, com o objetivo de mitigar a letalidade policial”, diz a nota.